Manuel Ledo, Presidente da Associação de Produtores Agrícolas dos Açores - Terra Verde, admitiu que a situação que se vive hoje na agricultura açoriana, mais concretamente em São Miguel, está passar por dias difíceis, principalmente porque há falta de mão-de-obra, mas também pela pouca margem de lucro que os produtores têm. Isto é, são eles que trabalham, mas os que mais ganham são os intermediários e os comerciantes. “Neste momento, algumas superfícies comerciais estão a exigir que os seus fornecedores sejam
certificados. Para obterem estas certificações, têm um custo muito elevado, o que necessitam de um apoio para o efeito. A Terra Verde também tem vindo a sugerir a equidade nos apoios às certificações, isto é, acrescentar a avaliação Local gap, a Certificação GLOBALG.A.P. e a PRODI aos 10 % de majoração nos apoios que, atualmente, dão ao DOP, IGP e MPB”. Um conjunto de factores faz com que trabalhar a terra não seja aliciante para os mais jovens e os que hoje estão no sector agrícola, na sua maioria, são filhos de agricultores. Para Manuel Ledo tem de haver uma maior sensibilidade, porque se não produzirmos vamos importar mais, e isso também será um problema ambiental. Para minorar os problemas, e tendo em vista o futuro, o Presidente da Terra Verde, defende mais e melhor formação, apostando num misto na escola pública, cujo trabalho dos alunos podem ser desenvolvidos em duas escolas profissionais, a Escolha Profissional da Ribeira Grande, em Grande de Peixe (agricultura), e a Escola Profissional dos Arrifes (pecuária). “Como forma de colmatar a médio e a longo prazo esta situação, a Terra Verde elaborou um Plano de Formação, para o ensino regular/profissional, em 2014, tendo o seu início no 3º ciclo, esta formação deverá ser desenvolvida só em duas escolas”, mas até hoje ainda não há uma definição, estando prevista uma reunião com as secretárias da Educação e do Emprego. O pedido de reunião foi feito pela Escola Profissional da Ribeira Grande, da qual a Terra Verde é cooperante. A proposta assenta na possibilidade de iniciar a actividade agrícola/pecuária integrada no ensino regular. Os alunos ao iniciar o 3º ciclo iniciavam a sua actividade na agricultura ou na pecuária. O que nós propomos é que houvesse só duas escolas, devido à falta de formadores com qualidade. A Escola Profissional da Ribeira Grande como fica em Rabo de Peixe e próxima do campo de Santana podia fazer ensaios e a outra nos Arrifes com a pecuária porque fica próxima da Associação de Jovens Agricultores. “No ano agrícola passado, e mesmo neste ano agrícola, os produtores continuam a sentir vários desafios na agricultura, que não têm sido fáceis de ultrapassar. Como referido, a falta de mão-de-obra, tendo a Terra Verde sugerido a criação de um banco de trabalhadores.
Outro desafio são os prejuízos com as pragas (pombo torcaz, coelho, rolas e pardais) que os agricultores têm manifestado junto dos nossos técnicos durante as visitas destes, que dizimam certas culturas. Os ambientalistas são contra o controlo dessas pragas e conciliar a posição deles com os agricultores que sofrem com os estragos para Manuel Ledo é muito simples: “Tem de haver uma abertura de caça porque o número destas espécies já é um exagero. Os agricultores estão a ter prejuízos muito elevados e os nossos técnicos comprovam isso mesmo aquando das visitas que fazem aos agricultores. Essas pragas também já estão a entrar em estufas, o que antes não acontecia. Tem de se arranjar uma forma de colmatar isso. A nossa estimativa é que a produção agrícolas devido às pragas tem uma quebra na produção na ordem dos 60%., estando agora os agricultores a alimentar estas espécies. Manuel Ledo conta que há algum tempo atrás, um defensor dessas pragas pediu um equilíbrio porque as aves têm de comer e garante que é o primeiro a querer protegê-las quando os defensores das pragas entraram com algum alimento. O argumento de que vivem em prédios para Manuel Ledo não colhe, porque podem colocar milho e trigo nas varandas, mas ninguém quer as pragas ao pé da sua porta. Eu acho muito bem que não queiram mas ser só os agricultores a sustentar é que não pode ser. Nós não queremos fugir das nossas obrigações, queremos sustentar as espécies mas em primeiro lugar queremos sustentar os nossos filhos”. Com a quebra na produção
também chega menos ao consumidor final, os preços aumentam, e tem de haver importação, o que acarreta também um problema ambiental com os transportes. “Fala-se das vacas, mas com a pandemia verificou-se que com a diminuição dos transportes o planeta ficou melhor; houve diminuição do dióxido de carbono, e as vacas eram as mesmas”.
A estas pragas, acrescenta a entrada de novas pragas devido à importação. Por exemplo, há uma lagartixa que destrói os tomateiros, começam pelas folhas e acabam no tomate. Há pelo menos dois produtores que deixaram a produção de tomate devido a esta espécie. Este ano, diz, “a Secretaria da Agricultura irá dar um apoio à aquisição de sementes, pois quer as sementes quer os restantes factores de produção tiveram uma elevada subida de preços, e o preço pago aos produtores não tiveram nenhuma subida significativa”. O consumidor paga mais caro os produtos mas isso não se reflecte no produtor, garante o Presidente da Terra Verde. Segundo dados estatísticos “apenas chega ao produtor 7% e o que estamos a trabalhar é para que haja uma divisão mais equitativa e que pelo menos chegue ao produtor cerca de 30%, e os restantes distribuídos pelo distribuidor e pelo comerciante. Com as quebras que já referi e com os custos de produção a aumentar ser agricultor hoje é difícil e é uma profissão que a continuar assim está quase a acabar e nós não queremos que isso aconteça”.
Ainda em jeito e balanço do que foi desenvolvido pela Terra Verde, refere que no ano agrícola (2021/2022), a Associação conseguiu adquirir uma Linha de Processamento para a Batata e um empilhador através das candidaturas ao DRR 22 e a uma Resolução do Governo. Recorda que “estas candidaturas já tinham sido submetidas ao antigo Governo Regional e nunca tinham sido contempladas e no 1º ano desta legislatura foi-nos concedido o apoio”.
Sublinha que “este equipamento veio colmatar uma das várias necessidades dos agricultores e que desta forma terão uma baixa nos custos de produção, uma vez que ao utilizarem estes equipamentos, reduzem o tempo gasto nas operações pós-colheita, tendo mais tempo para as operações no campo. Para além de que podem calibrar e embalar a batata consoante as exigências actuais dos consumidores e oferecendo um produto diferenciado, com melhor apresentação”.
Nesta candidatura, diz Manuel Ledo, “quer o Sr. Secretário quer as direcções regionais da Agricultura e do Desenvolvimento Rural tiveram uma atenção mais cuidada, pois grande parte dos nossos pareceres foram tidos em conta, como por exemplo: a alteração da Submedida 6.1 (Apoio aos Jovens Agricultores) havendo uma melhor equidade para todos os jovens. Também o program de apoio – PROAMAF - teve um aumento muito significativo do seu valor máximo. Já quanto ao POSEI, o Seguro Agrícola, foram elaborados tendo em conta alguns dos nossos pareceres, coisa que anteriormente eram tidos em conta. Ainda, neste momento, diz, “não foi resolvida a questão dos Agricultores a Tempo Inteiro e os que não estão a tempo inteiro, o que vem prejudicar quer jovens quer menos jovens, nas candidaturas e nos apoios directos que uns tem direito e outros não. Convém referir que só na Região dos Açores existe esta situação”. O Governo já tinha aceite fazer a alteração, mas na Assembleia Regional esta proposta não foi aprovada, mas Manuel Ledo acha que “a mesma está no bom caminho”.
Terra Verde vai avançar com sede
Neste momento, a Terra Verde já tem um terreno para a construção de uma sede e da Central de Concentração de Produtos Hortofrutícolas: “O arquitecto já apresentou à Câmara da Ribeira Grande, o pedido de um Estudo Prévio, o qual não foi aceite, por falta de lugares de estacionamento. O projecto está a ser revisto para, novamente, ser apresentado à edilidade. Também estamos a
evidenciar esforços para conseguirmos um terreno onde possamos construir um viveiro e campos de ensaios. Este viveiro e os ensaios servirão para aulas práticas das escolas profissionais, também para a formação proposta pela Terra Verde e, ainda, para a formação contínua dos nossos produtores. A agricultura, em São Miguel, ficou sem nenhuma agroindústria. Foram extintas as fábricas
de beterraba, batata doce e chicória. Apesar das fábricas de tabaco existirem, os produtores deixaram de o produzir. Nesta situação, a Terra Verde elaborou um anteprojeto com a criação de uma unidade fabril constituída por 3 indústrias: a de transformação de beterraba em açúcar; a de transformação de batata-doce em álcool e outra de processamento de chicória.