O Governo dos Açores anunciou a elaboração de um estudo sobre a Agricultura e deu um prazo de um ano para a sua conclusão. Este será um estudo que atenderá a outros que já existem e terá em atenção os novos desafios que se colocam ao sector agrícola. Em seu tender para que objetivo deve apontar este estudo tendo em atenção que cada ilha é uma realidade agrícola própria?
São grandes as expectativas relativamente ao novo ciclo governativo, nomeadamente em relação ao Sr. Secretário António Ventura, na medida em que tem mostrado uma grande sensibilidade em relação à importância que o setor hortofrutícola tem para a economia da Região. Não nos podemos esquecer que, no momento, a Região ainda não é autossuficiente e como tal, o potencial de crescimento é bastante interessante.
Fruto do trabalho desenvolvido pelos produtores e associações agrícolas da Região e, em especial, a Terra Verde, podemos dizer que existem condições para o auto abastecimento da Região, desde que haja um forte comprometimento dos decisores políticos para delinear uma estratégia de futuro assente no objetivo da auto suficiência.
No nosso entender, os estudos de mercado são fundamentais para delinear uma estratégia coesa para o desenvolvimento do setor, pois não se pode falar em evolução sem termos conhecimento da realidade agrícola da região.
Muito se tem falado em estudos de mercado, mas a verdade é que, até ao momento, não se assistiu a nenhuma partilha válida com os produtores e essencialmente com as associações locais que têm como objetivo principal apoiar e promover a diversificação da produção. Entenda-se que para a Terra Verde, a diversificação representa a capacidade de produção de novas culturas e não o nome que, erradamente, se tem dado ao sector da Agricultura.
Na nossa opinião, um estudo desta natureza terá de ter uma visão alargada de modo que possa envolver todos os intervenientes da cadeia agro-alimentar da Região, entre eles a SRADR, produtores, associações e cooperativas, cadeias de distribuição, pequenas e grandes superfícies, fornecedores de fatores de produção e não menos importantes, os consumidores. É importante referir que, de nada serve promover o aumento e diversificação da produção, se não estivermos todos alinhados num objetivo comum, o da real valorização do produto regional.
Além disso, este estudo deverá ter como objetivo apoiar na tomada de decisão, garantindo que os dinheiros públicos são canalizados para projetos de interesse para a Região, apostando nos setores onde se verifique défice da produção, diminuindo assim a taxa de importação e um forte contributo para a redução da pegada ecológica e sustentabilidade agrícola.
A Agricultura açoriana está a entrar numa nova fase, com reajustamentos que indiciam um decréscimo na fileira do leite e, em contrapartida, um aumento da fileira da carne e da horticultura e fruticultura. Em sua opinião como se devem processar estes reajustamentos?
Que área de terra deve ser ocupada por cada uma destas fileiras? Porquê? Na nossa opinião, os reajustamentos teriam de passar por uma avaliação da área disponível de solos com aptidão para o setor hortofrutícola, pois a verdade é que nos últimos anos, fruto do desinvestimento na área hortofrutícola, muitos destes solos foram adquiridos para a produção de leite.
A área a ocupar deverá ser aquela que justificar o equilíbrio entre a oferta e a procura do produto, evitando criar excedentes ou, por outro lado, recorrer à importação de produtos que tenhamos potencial para produzir cá. A resposta a esta questão, não é um cálculo matemático simples, exige uma análise de vários aspetos e daí ser de extrema importância um estudo de mercado rigoroso que permita agir de forma rápida e eficaz no setor.
A Terra Verde tem desenvolvido ao longo do tempo um trabalho de proximidade com a Universidade dos Açores e seus investiga-
dores, no sentido de perceber de que forma é que, em conjunto, podemos encontrar soluções que dêem resposta às necessidades da produção agrícola. Para além disso, a Associação tem vindo a trilhar um caminho no sentido da sustentabilidade e da garantia da qualidade do produto regional, tendo por isso avançado com um projeto que consiste em garantir que todos os produtores associados da Terra Verde, no médio/longo prazo cumpram os requisitos para uma certificação internacional como é o caso do Global GAP.
A fileira da carne tem potencial para crescer nos Açores. Como se deve desenvolver esse potencial e que raças se deve usar na fileira da carne?
Certamente haverá outras associações do setor que poderão responder adequadamente a esta questão, a Terra Verde defende o setor Horto-Florícola e não pode pronunciar-se em relação a temas que não domina.
Há quem defenda que uma das soluções para a “necessária” redução da produção de leite é transformar as pequenas explorações de leite em explorações de carne. Concorda com estamedida e como deve ser aplicada? Que programa de incentivos deve acompanhar este importante reajustamento?
Não cabe à Terra Verde avaliar esta situação, certamente as associações agrícolas do setor já estarão a desenvolver trabalho neste sentido.
O cálculo do rendimento do produtor de leite e carne tem sido feito na perspectiva da receita obtida por litro de leite e pouco pelo custo das matérias-primas para o produzir. Quando se defende a produção do leite biológico, do leite com iodo e do leite de pastagem, que impacto terá essa alteração na alimentação do gado e, que impacto isso terá para o rendimento do produtor e para o consumidor?
O que podemos dizer é que os modos de produção sustentáveis implicam custos acrescidos para qualquer produtor, seja do setor da pecuária, seja do setor hortofrutícola. É inquestionável o impacto que os modos de produção sustentáveis têm para o ambiente e para a saúde, contudo, é importante perceber se o valor a que está ser vendido o produto final compensa o investimento.
Na nossa área, por exemplo, os fatores de produção resíduo zero, biológicos ou recursos a organismos auxiliares para controlo de pragas, têm custos elevadíssimos e nem sempre o preço do produto final compensa o investimento.
A maior parte do consumidor não tem noção dos custos de produção de um produto hortofrutícola, o mesmo acontecerá na produção de leite biológico ou outros. Além disso, a oferta destas soluções na região é reduzida, sendo necessário recorrer a empresas do exterior.
Importa referir ainda que, apesar das certificações serem um requisito obrigatório para as grandes superfícies, os produtores continuam a não sentir que seja uma mais valia, na medida em que não existe diferenciação.
A par da majoração atribuída aos produtores certificados com DOP, IGP e MPB, a Terra Verde defende de igual forma que a majoração seja extensiva aos produtores que cumprem os requisitos dos referenciais Local gap ou Global GAP.
O mercado da carne ainda tem muito caminho para fazer nos Açores, nomeadamente, em São Miguel, onde se exporta ainda muito gado vivo, e a carne em carcaça. O que é preciso fazer para que a Região possa certificar a carne abatida nos matadouros dos Açores, já com a desmancha feita e embalada em vácuo e, com isso, acrescentar valor e desenvolvendo a agro-indústria, e criando mais-valias?
A Terra Verde não tem opinião em relação a esta questão. No entanto, no que diz respeito ao setor hortofrutícola muito há a fazer, nomeadamente, no que diz respeito à promoção, valorização do produto regional bem como em relação ao aproveitamento de produtos hortofrutícolas que, por não cumprirem os padrões de qualidade, têm como destino o lixo.
A falta de infra-estruturas de apoio à produção é uma realidade. A grande maioria dos produtores não tem capacidade de armazenamento da produção levando a que grande parte da mesma, que não é comercializada em tempo útil, acabe por perder-se ou a ser picado e incorporado nos solos.
Veja-se o caso da batata em que continuamos a armazená-la no antigo armazém da batata, sem condições adequadas e que, mal ou bem, tem servido como “desenrasque” para alguns produtores. A evolução do setor não se compadece com o “desenrasque”, pois estando no séc.XXI e com toda a tecnologia disponível não existem razões para que o pós-colheita continue a ser descurado na ilha de São Miguel, em especial.
A Terra Verde já tem em sua posse o terreno para a sua construção, neste momento, estamos a aguardar verbas para o projeto de arquitetura e respetivas especialidades, de forma que possamos orçamentar a sua construção e aquisição de equipamentos necessários para início da atividade.
Contamos, agora com o apoio do atualSecretário Regional da Agricultura para o desenvolvimento do projeto e construção da Central de Concentração de Produtos Hortofrutícolas, projetada para inverter esta situação.
Por um aumento significativo das produções de hortícolas, frutícolas e flores, de modo a equilibrar o déficit que existe quanto às importações que a Região faz. Tal como se tem feito com os incentivos à plantação das vinhas, que incentivos devem ser disponibilizados para incentivar o crescimento da produção agrícola em todas as Ilhas da Região?
O aumento da produção está sempre condicionado à disponibilidade de terra arável, o que é um fator limitativo para qualquer jovem agricultor que pretenda investir na área e não tenha terrenos na família, além disso, os valores praticados são muito elevados.
O Governo Regional e, em especial a Secretaria Regional da Agricultura, terá um papel muito importante nesta matéria.
A Terra Verde tem vindo a assistir a uma desigualdade no tratamento em relação aos apoios concedidos a jovens candidatos ao Prémio de 1ª instalação, na medida em que um jovem que apresente uma candidatura na área da Horto-Florícola, atendendo aos escalões/áreas definidos, dificilmente atingirá uma área superior a 5ha para beneficiar do segundo escalão (26.900€), enquanto que um candidato na área da pecuária facilmente poderá atingir o 5o escalão, que corresponde a uma área superior a 40 ha (50.000€).
Importante será, garantir que os jovens agricultores, independentemente de investirem na pecuária ou hortifruticultura, possam ter acesso aos mesmos benefícios, especialmente em relação ao prémio de primeira instalação, como forma de os incentivar a investir na área.
A Terra Verde assume, desde a sua constituição, uma posição de proatividade e privilegia relações de parceria com os decisores políticos. Ao entrarmos num novo ciclogovernativo, a Terra Verde apresentou vários contributos para o desenvolvimento de uma Agricultura Sustentável, mais atrativa e geradora de rendimentos justos ao produtor. Não nos podemos esquecer que este setor tem um elevado potencial de crescimento, sendo por isso fundamental criar condições para que os produtores instalados possam aumentar e diversificar, mas também condições apelativas para que outros possam investir na Agricultura.
Atendendo as características e pequena dimensão das Unidades de Produção, é importante perceber que a estratégia a definir para o setor deverá estar sempre focada na garantia da qualidade e excelência dos produtos regionais, mesmo quando aumentamos a produção.
A Terra Verde tem todo o interesse em continuar a ser uma parceira ativa do Governo e estará sempre disponível para colaborar e contribuir para o desenvolvimento da Agricultura dos Açores.
Salientamos ser importante todos os pontos anteriormente referidos, no entanto, é para nós de relevante interesse e urgência, a Formação, as Infra-estruturas de Apoio ao Pós-colheita, a Indústria e o Seguro de Colheita.
Prejuízos provocados pela Depressão Lola?
Continuamos a assistir a prejuízos na horticultura provocados por tempestades que, ultimamente, têm surgido com maior frequência, sendo a mais recente a Depressão Lola. Estes prejuízos com enorme impacto no rendimento dos produtores poderiam ser minimizados se os seguros agrícolas estivessem adaptados às necessidades da produção regional e às especificidades climatéricas da Região.
Face ao histórico de indiferença por partedo Governo Regional a situações de prejuízo semelhantes a esta que hoje os produtores vivem, a Terra Verde está preocupada e espera que o atual Governo esteja preparado para agir de forma rápida e eficaz no apoio aos produtores Horto-Florícola. Este tema é especialmente delicado, porque apesar de existirem seguros de colheita, os mesmos não estão adequados às reais necessidades.
Neste momento, a Terra Verde já se encontra a reunir informação junto dos produtores para quantificar os prejuízos, mas é certo que muitas das produções já instaladas ficaram danificadas e portanto, e termos de produção regional podemos prever grandes dificuldades.
A Terra Verde, à semelhança do que é habitual, não baixa armas e já tomou iniciativa de agendar uma audiência com o Sr. Secretário para apresentação da situação.